Não era perfeito
Não era excelente
Nem extraordinário
Mas estava ok
Acomodado
Quando viu tudo se dissipar
Tudo mudar
Por não ter um vício
aparente
Mal sabia ele,
que tinha vários
Era muito viciado em
Obscenidades
Jogos
E em se depreciar...
O que os seus admiradores não sabiam, é o que efetivamente aconteceu no dia 13 de maio de 2022.
Viviam nessa humilde residência, danificada pelo tempo, um grupo familiar, muito animado e festivo.
Acredita-se, que sua renda vinha de doações e da coleta de recicláveis.
Era estranho para os seus vizinhos, verem que eles se levantavam tarde e aos fins de semana, mesmo sem energia elétrica, faziam grandes festas com música alta.
Foi depois de uma dessas festas, que o dono do terreno, que emprestará a casa para que essa peculiar família habitasse, decidiu tomar de volta sua posse.
Esses inquilinos, não pagavam aluguel, não respeitavam a vizinhança ao redor, no entanto, o usucapião não se aplicava a eles.
Foi nesse momento de embate, que o dono do terreno ouviu da boca da matriarca da família, que eles sairiam, iriam embora, mas que ninguém e nem nada seria feito ou habitado naquele local depois deles partirem.
Ouvir palavras doces, como as que ele emanava, seriam um divisor em todo seu oceano de dor.
Infelizmente, nem tudo o que queremos é possível.
Nem tudo que esperamos acontece.
Vivemos frustrados, na frustração de uma espera recíproca, ou nem tão recíproca assim, pois não enxergamos nem nosso umbigo, quem dirá o que fazemos com os outros.
Esperar que o universo te retorne flores, se nem sementes plantas, apenas com mentiras regas, a espera da poda de seus espinhos, mas que ressequidos insistem em ferir qualquer um que tenta se achegar.
O amor é como o fogo, quente, queima, arde, aquece, abraça, afaga, às vezes, estraga e até afasta.
É estranho, e isso se assemelha com o processo de escrita.
Por vezes, rascunhos são feitos, jogados ao vento, vez ou outra, deixados de lado, mas em certos momentos, são recuperados e servem de amparo para um autor sem inspiração.
Ele não perdia a inspiração, por mais que a respiração lhe faltasse, fosse difícil e confusa em meio ao seu desaguar.
No marejar dos seus olhos, até a lágrima se formar por inteira, ele sentia que algo saía.
Pensou que se talvez chorasse um mar de lágrimas, sentiria que um oceano formaria, talvez como no dilúvio, um novo dia chegaria.
Mesmo achando que tivesse morrido, por estar ressequido, um novo caminho de palavras surgia, mesmo na surdina e que menos leitores o leriam.
A palavra era o verbo e o verbo estava escondido.
Até ser completa, uma história, ela passa por muitas fases.
Existe a ideia, a inspiração, o desejo, a vontade, a escrita, a temática e a vivência do autor.
Não importa mais se ele se senta em frente a uma velha máquina de escrever, ou se ainda usa folhas de papel para derramar sua alma.
Por mais que alguns autores insistam em dizer que escrevem sem se envolverem nas histórias, eu não consigo acreditar nisso.
Ele não era muito de falar, mas contava histórias como ninguém.
Ele se escondeu atrás de um pseudônimo que o proporcionava viver e sentir como se fosse livre, como alguém que não tinha defeitos ou máculas.
Por mais que sua vida fosse sombria, ele sorria quando escrevia, pois se realizava muito nisso.
Meu Zé do passado
Que sozinho sofria
Sucumbia
E que não tinha voz ativa
Esse livro é para o meu pequeno Zé,
que tinha medo e ainda tem,
mas que o Zhé adulto o defende com unhas e dentes.
É como se fosse um perdoar a minha criança interior
Pela culpa que ela carregou e sentiu
Ele acorda e já pensa:
Quem poderia preencher meu vazio?
Incessantemente ele busca
Ele luta e reluta contra si mesmo
Se humilha
E vez ou outra se entrega
Na maior parte das vezes
É vencido pelo seu esforço cansativo
Sua preguiça te sublima
E se esquece de quem está ao seu redor
Quando fechava os olhos para descansar
Era como se tivesse acordado para outra
Enquanto de um lado era um
Do outro era outra
Outro
Outrem
Eu me entreguei sem hesitar
Isso tudo foi o que eu desejei
Idealizei e imaginei
Tudo não passou de uma grande fanfic que eu mesmo inventei
A começar de quem eu devia ser
Pois só assim você me deu atenção
Foi por causa do seu título que me encantei
E você pelo desafio e fetiche
O engraçado que eu não consigo nem me lembrar do seu nome...
"Exagerado, eu sou mesmo exagerado... Adoro / procuro um amor inventado..."
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Ilustração: Possessão Aquosa, Carla Barth (2022-2023) |
Que a tornava, um animal selvagem,
Que só parava,
Só descansava,
Quando dilacerava sua presa,
Que presa em sua boca restava.
Mas sabia que não podia ter.
Quando cresceu, pensou em ser uma boneca,
No entanto, percebeu que também não podia ser.
Ele entrando
Nossos olhos se cruzaram
E como se não precisasse de palavras
Os olhos falaram mais alto
Todo o corpo se manifestou
E o inevitável aconteceu
Enquanto eu me recompunha
Ele que estava entrando, acabou saindo
E eu que estava saindo
Não me arrependi de ter voltado